13 de julho de 2015

O Desafio Decisivo da Logística Inversa (parte 3)

Os custos financeiros desconhecidos

Na empresa de telecomunicações, onde os colaboradores estão sempre demasiado ocupados, ninguém procurou saber qual a empresa que pode recolher do modo mais barato o telemóvel da jovem Marta. Do mesmo modo, o grossista de eletrodomésticos esqueceu-se de quantificar quantas máquinas de lavar retornadas cabem no armazém.

Por mais insólito que possa parecer, uma larga maioria das empresas não consegue quantificar quanto lhe vai custar a birra da jovem Marta, a falta de cuidado da Dona Maria Amélia, e o finca-pé do empreendedor João António.

A maioria das empresas não tem meios para identificar onde a logística inversa afeta os seus resultados e margens simplesmente porque os seus sistemas de custeio estão virados para o controlo dos custos num fluxo direto e não dão visibilidade aos custos da logística inversa.

Ao mesmo tempo, a logística inversa, para além de ser um fluxo físico e informacional de sentido oposto ao tradicional, é também uma componente do negócio das empresas que geralmente oculta custos das operações e contribui para a redução de margens de negócio. Assim, os decisores empresariais deveriam fazer uma pesquisa “in house”, para poderem quantificar o impacto da logística inversa. Quanto custa o processamento de um produto devolvido? Quanto custa a permanência em armazém de produtos devolvidos? E em espaço contratado ao operador logístico? Quanto pode ser reduzido no Capex pela reinserção de equipamentos retornados? Qual o impacto fiscal de imobilizado obsoleto em equipamentos? Quais os custos acrescidos de serviços logísticos externos por operações de valor acrescentado imprevistas nos contratos? Quais os custos de garantias e seguros com clientes e fornecedores de produtos devolvidos? Quais os custos acrescidos de transportes para satisfazer necessidades imprevistas de recolha de produtos? Quais os custos e riscos financeiros de incumprimento de prazos em processos de logística inversa com clientes, fornecedores e autoridades, como por exemplo a regulação da propriedade de produtos retornados ou a abater?

Dados quantitativos de resposta às perguntas acima partilhadas poderiam ajudar a encontrar o valor exato dos custos de logística inversa que, embora difíceis de determinar, indiciam o seu peso relevante no total de custos logísticos nas empresas e na economia em geral.

Por exemplo, o Reverse Logistics Executive Council calcula que nos países ocidentais os custos de logística inversa são cerca de 4% dos custos totais de logística. Os custos de logística inversa nos USA foram avaliados entre 0,5% a 1% do produto total. O Supply Chain Consortium garante que os custos de logística inversa valem entre 3% a 4% dos custos logísticos das empresas.

Em Portugal escasseiam as estatísticas sobre logística inversa. No entanto, um estudo da revista Logística Moderna, publicado em 2013, sobre “Supply Chain em Portugal” afirmava que mais de 8% das empresas inquiridas possuíam um custo de logística inversa superior a 9% do volume de atividade.

Mas, infelizmente, no geral, a maioria das empresas não faz ideia de quanto lhes custa a logística inversa.

Tal acontece principalmente porque a estrutura de custos da logística inversa é muito diferente da logística direta. No canal direto, os custos estão bem definidos e os sistemas contabilísticos estão desenhados para determinar estes custos com exactidão. As operações e os sistemas são projetados para a logística direta, o que implica a adaptação dos recursos disponíveis ou a busca de meios adicionais para a resolução dos problemas específicos da logística inversa.

Por outro lado, muitas situações que implicam a ação da logística inversa percorrem várias áreas da empresa, são aleatórias e imprevisíveis.

Uma das maiores dificuldades consiste em saber como a empresa pode recolher, de modo eficaz e económico, todos os produtos desde o local onde já não são desejados e transferi-los para o local onde possam ser processados, reutilizados ou recuperados, após o que deve determinar o destino a dar a cada um dos produtos entrados no fluxo inverso, para lhes atribuir valor acrescentado na organização.

Assim, continuam a existir custos relativos às atividades de logística inversa que se encontram ocultos nos sistemas de controlo de custos da maioria das empresas.

No entanto, vários sectores de atividade têm incorporado na sua organização processos de logística inversa, algumas vezes por imposição legal ou regulamentar. São exemplos desta situação os sectores farmacêutico, alimentar e automóvel, onde a necessidade de processos de recuperação de produtos colocados no mercado é frequente.

No sector tecnológico, a logística inversa impõe requisitos adicionais de sistemas de informação de “track & trace” serializado, ou seja a necessidade de obter informação sobre o ciclo de vida de um produto pelo seu número de série específico.

Deste modo, um esforço para incorporar e operacionalizar os custos de logística inversa devem ser uma prioridade para as empresas. Algumas boas práticas podem ajudar, como veremos no “post” final desta série.

Carlos Carvalho/Logistema

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